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4 de mai. de 2007

Todo o tempo do mundo


Ele era jovem, um moço que gosta das artes. Tudo era intenso em sua vida. Ele tem um coração entre labirintos. Passava na frente da casa dela e tinha flash-backs ao ver os lugares tão conhecidos. Adora andar pelo parque, faz isso para se entender. Colocava a casa das idéias no lugar. Fazia suas caminhadas ao sol. Falou com seu amigo sincero. Teve um ultimo mês conturbado com o coração aflito e os sonhos de tom alado. Guardava no bolso do casaco a foto da amada. Uma mulher encantada que lhe causa dor e alegria. Ele adorava a sua explosão de odiava a sua sobra de deixa o chão em depressão. Essa que assombrava ela, sempre. Era um moço estudado, morava com seus avós. Tinha vinte oito anos e tomava vinho como um amante. Eis que falou pra seu amigo:
- César, eu sou louco por amar loucamente?
- Ora que pergunta tola Ni, tu amas porque sonha.
Saiu encucado com a franqueza do amigo. Andava cambaleando as idéias, pensava em seus outros relacionamentos, parou e voltou a falar:
- Um minuto, se não fosse o amor dos meus pais eu não estaria vivo.
- Mas eles estão mortos, não estariam juntos até hoje se vivos fossem. Aprende, o amor tem data de validade.
Ficou com essa frase martelando o seu cérebro durante toda aquela noite e madrugada e lutando tentando dormir. “Amor com data de validade.” Ficou conturbado, com caraminholas na caixola. Ele teimava em acreditar no amor. Os passarinhos ainda voavam sobre a sua cabeça, mas ele via quase tudo sem muita cor. Acordava depois de doze horas mal dormidas todos os dias, o dia que dormia somente oito horas tinha dores horríveis de cabeça. Tudo era sem cor, gostava apenas de olhar o preto dos cantos de sua casa. Seu avô não vivia, vegetava. Sua avó lhe falava do amor e ele queria realmente morrer, pois a sua época e vida era apenas um sake bruto e amargo.
Acordava, limpava o rosto e logo ligou para seu amigo César, muito aflito:
- Amigo, eu quero conhecer a real vida; quero ser feliz, preciso de um caminho.
- Claro frater, eu te darei a fórmula, é assim, temos que lidar e cuidar de nós e das mulheres.
César passou em sua casa, e lhe levou ao lupanar, para dominar, gozar, repreender, vencer e escrachar as mulheres. Sentia-se livre e altamente drogado, era feliz por horas e horas: um instante de não-dor.
A saliva saia no canto da sua boca. Ele lembrava da noite passada. Quantos gozos, quantos tapas, unhadas e mordidas que dava. Tirava delas sangue, queria vingança, queria ser maior, dominador. Tomar as rédeas das mulheres do mundo. Sentia-se lindo, se sentia imundo. Era soberano rei, era o ultimo dos mendigos.
César seu amigo estava orgulhoso, era um troféu ver seu amigo dominador, deixar mulheres arranhadas, desconcertada e sovada, assim como faria um padeiro batendo no pão: malfeitor. Assim César fala:
- Agora aprende, sempre assim deves viver; as mulheres ele deve controlar, não amar. Amar é para os fracos. Deve ser forte, lhe dê um leve gostar e sempre você na frente.
-Eu estou totalmente alterado, corpo laço, me sinto confortado e um tanto quanto vingado.
Então os dois vão para as suas casas, depois da noite de folia. Era realmente uma folia, ao estilo italiano. Chega em casa, Nishikawa, apenas Ni para os íntimos. Sua amada Yumihime era esquecida, pois de morte dolorida; ela quis matar o amor. E ele quis esquecer e outras mulheres tentar conhecer.
O ciclo vicioso de amor e coração partido o deixou dilacerado, despedaçado, sem as pétalas da flor da sua alma. Tentava esquecer todas e quaisquer lembranças de qualquer caso amoroso que teve em um passado próximo. Olhava para a parede branca e se perguntava: “Por quê?”.
Silêncio, sem resposta. Era um vazio totalmente tenebroso, Pensou em sair. Ir para um lugar aonde as pessoas escutam e ninguém entenda nem uma vírgula do que se fala. Pensou no Japão e as cidades e as suas luzes.
Ficar longe das questões não entendidas, dos anti-troféus ambulantes, como se apontassem o dedo para ele dizendo: perdedor! – ele é o perdedor do amor e nada nem ninguém pode ajudá-lo.
A cama fria, sobrando espaço na cama e no coração, aquele possivelmente uma ancora na sua dignidade, como afundar a sua moral, seu orgulho, ego desgastado e triste. Poderia tudo sido preenchido por outrem, pensou. Saiu em fuga desesperado. Queria paz, e mal sabia ele que ela estava escondida dentro dele. Liga para o seu avô:
- Olá vovô, estou partindo daqui três dias, não me espera mais para os almoços de família no domingo por esse próximo mês. Sou novo, preciso conhecer o mundo, o meu mundo e o mundo afora. De meus cumprimentos aos meus conhecidos e familiares. Adeus!
Estava laço, totalmente triste. Chorava as lágrimas do desespero e a falta de ser amado pela sua “menina dos olhos”. Via a tristeza em pessoa estampada no espelho quebrado de um botequim. Pedia a garçonete afago:
- Olá benzinho, podes me ajudar?
Apenas bebidas ela trazia. Pensava calado: “Um assassino serial, afogando suas vítimas de amor ou então tentar conquistar a cada dia um outro amor: em vão! Morro de ambas as formas. Mas calma! Eu tenho tempo.” Ele estava de ressaca, ressacado da vida, da impotência perante o amor cigano. O mundo parecia ainda pior. Rios de sangue ele via pelos prédios. Os parques lhe pareciam cemitérios. Uma dor quase insuportável lhe tomava o peito, como um monstro de mil dentes devorando, uma dor alojada, cárcere do seu plexo, dor arruinante. Pensava em morte. Suicídio. Dores, sim, diversas! Era muito ruim viver, era um fardo, um calvário, não trocava de roupa, era uma mortalha e a sua música ao fundo era mui triste, seu lindo e perfeito requim. Cai exausto e desmaia de sono.
Quando acordou foi ao aeroporto e foi para a Índia. Por barcos e clandestinamente entra sorrateiramente no Japão, com documento de um cidadão local. Ao sair do porto viu: teve uma visão com cores, fazia já meses que não via direito as cores; eram crianças japonesas brincando e correndo em volta do arvoredo em uma praça típica.
Sentiu a liberdade nos seus poros se apoderarem e compreender. Começou uma caminhada, de cidade em cidade. Estava contente, fazia pequenos trabalhos para o seu sustento. Eis que chega a uma cidade maior, a noite viu as luzes dos seus sonhos, havia tantas pessoas pra conversar, conhecer. Fala quase sem sotaque ele ouve palavras de um velho na rua:
- Não importa se há guerra, selvageria e barbáries, seja do homem com armas ou do coração das pessoas. A resposta sempre estará dentro de nós, o caminho para o fim da dor. Se assim entender, encontrará o modo da felicidade, o modo de vida. Sendo a vida o próprio caminho assim como a felicidade, são apenas formas de como passamos pelo caminho. Logo a felicidade não se alcança e sim se está ou não com ela. A paz da mesma forma.
Eis que foi para um pequeno hotel, já era noite. Sua mente o trai constantemente. Pede a volta do amor perdido. Volta e tem inúmeros flash-bakcs, ropodia, toma sake, tenta esquecer e começa a ler.
- Há um jornal, apenas notícias de guerra! Arg...
Se sentia em luta também, queria apenas ser feliz, amar e ser amado por alguém. Simples como o fim de uma guerra, ser um casal feliz. Ficava horas entre fúria, dores, desespero e quedas. Cai sem uma gota de força no dormitório. Passou um dia inteiro, dezenas de horas caído no quarto. No outro dia acorda, por um segundo está bem, com se seu cérebro ainda não tivesse ligado totalmente. Segundo após, tudo vem. A dor lhe abocanha como presa fácil. Sai pelas ruas, é uma manhã meio nublada, se sente cinza também. Toma coragem e começa a tentar se entender, começa a indagar, a pensar e pensar. Queria certezas.
Sabia que todos os casos de amor de seus amigos e conhecidos de sua geração é assim mesmo. Queria certezas vingadas, uma família. Queria formar a certeza do amor e ter todas as certezas do mundo.
E não importava, em todos os tempos essa questão pensava que será pertinente. Era pra ele uma questão que transcendia ao tempo. Ele continuava a andar pelas ruas. Fugia do seu mundo. Ficava longe de tudo aquilo que lhe deixava em xeque. Tudo aquilo que não conseguia decifrar ou digerir. Chegou a uma ali em um banco de praça uma garota interessante, chorou em sua alma. Apresentou-se como filho de japoneses. Era como se um oceano de cores fosse jogado em suas vistas, tudo era tão colorido, cores vibrantes mesmo em um dia nublado. Ela era pra ele a resposta, o fim da dúvida. Uma certeza, bela e simples.
- És tão simples e dócil. Como pode alguém andar tanto, mas a caminhada me trás você, eu não posso parar de te olhar...
A conversar durou muito tempo... era algo incrível. Ele vê a recíproca e nada mais é igual. Tudo parecia muito calmo naquela manhã.

Quarenta e três segundos.

- Eu gostaria de olhar para o lado e ver um véu vermelho nos enlaçando. O coração feliz. Sem mentiras. Uma vida simples.

Não olho para o céu.
Não olho para o chão.
Eu vou esperar um tempo.
Não encaro como alento.
Não te quero como pão.
Te vejo de branco e véu.
Assim em terra estrangeira.
Sinto uma bela paz ligeira
que me bate o peito: certeira.
Em tempo de guerra, sou contradição.
Escrevo isso agora em papel de pão.
Uma vida imensa pela frente.
Um passo, ontem, em falso.
Hoje estou a traçar...
Eu digo, quando não voltar
pois eu sei tudo que calço.
E contigo tentarei decifrar: sempre.
Ó bela manhã singela.
Pinta-me, pássaros e aquarela.
És vida bela.
Caminhar bem passado ou passado...
Passado, sim, conturbado.
Pagina virada.
Bem controverso.
Eu me releio.
Eu te releio.
Um Japão todo pela frente.
Sigo em frente.
Hoje é um dia especial.
Tenho tantos planos.
Tantos sonhos.
Eu quero voar.
Voar acompanhado.
Todo homem e mulher
é um ser alado.
Pés no chão: meu peito não dói mais.
Parece a cura sem fim.
Amar demais não é demência.
Vejo um Japão lindo, toda efervescência.
És como minha cidade natal, linda querência.
Faço desta terra e de ti, amada, meu lar.
Era como um dançarino sem par.
Calmaria e alegria tomam o peito calejado.
Somos livres, lindos e livres: casal alado.
Amanhã é outro dia que nascerá!
Sou tão jovem! Eu vejo a luz que virá.
Eu? Bem, eu tenho todo o tempo do mundo.

Leandro Borges

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