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31 de mar. de 2009

Dissonância


Durmo torto, sinto torto
Como torto, falo torto
Respiro torto, ando torto
Bebo torto, amo torto
Penso torto, ajo torto
Caminho torto, trato torto
Consumo torto, cresço torto
Transpiro torto, vivo torto
Ouço torto, toco torto
Cheiro torto, vejo torto
Acordo torto, brinco torto
Degusto torto, imagino torto
Creio torto, adoeço torto
Vivo torto, morro torto.

Leandro Borges

Homem

Um resultado químico-psíquico-físico
Emocional, nutricional, orgânico: natural.
A ordem, disciplina e organização.
Sabedoria, zelo e certo dosar.

Leandro Borges

Quem dirá


Todo o potencial de recriar.
Um homem que escolhe é escolhido?
Somo apenas um filme já gravado?
Somos marionetes da sorte?
Não temos o potencial de escolha?
Somos o fruto do nosso caminho
Ditado pelo andar e o próprio caminho?
Todo homem a margem é fadado ao crime?
Toda a dureza do mundo é criador do criminoso?
Não acredito em certezas imutáveis
Somente as fatalidades são certas
Como a seta lançada ao ar.

Leandro Borges

Acordem


Arde a indignação forte.
Sem ninguém acordado ao redor
A solidão de estar cercado de
milhões de sonâmbulos.

Um instante que só gera tensão
Não flui em criatividade
Não se transforma em alegria.

Ferido por dentro
Julgado por facas cegas
Ando no fio do teu fel.
Ferido por surdez, incompreensão, cegueira
Um adormecer da realidade.
Caem as máscaras.
Caem os véus.
Que caiam todas!

Leandro Borges

Posto em Cena


Eu te trago alucinações sonoras.
São brilhantes, sons dançantes.

Eu não quero uma garota impossível
Fazer rir uma mulher com depressão
viver um amor sem chão.

Que seja possível o mundo
Me deixa ser eu mesmo
Me entende ao menos dessa vez.

Não te feri por mal
Estava com uma vida doente
Era um menino perdido no mundo
Sem a consciência do seu próprio.
Existir, viver, ser e relacionar.

Sem tato vivi.
Sem rumo vivi
Em um raio te perdi.

Deixei-me mostrar o eu renascido
aquele mesmo eu que te viu pela primeira vez

Eu vivo tão só
Sem dó
Nem dor.

Lembro ainda da constelação do teu olhar
Da tua forma doce de ser, agir, viver e amar
Amor.

Leandro Borges

Prova vida


Feito em caixa.
Prova viva.
Feito em pasta.
Prova o gosto.
Feito em fogo.
Prova sal.
Feito em prata.
Prova céu.
Feito em nuvens.
Prova papel.
Feito em brasa.
Prova luz.
Feito em diamante.
Prova terra.

Feito em coração.
Forjado em gloria.
Feito em sonho.
Forjado em vida.

Leandro Borges

24 de mar. de 2009

Encontro


Na mesa fria
vazia
não encontro o amor
não encontro poesia.

Tenho a vontade de conhecer-te
errada
de tantas erradas estou farto.

Errado, errante estou farto de ser.
Sigo em curvas tortuosas e labirínticas.
Não vejo retas as paredes desse bar,
todas me parecem envergar em cima de mim.
Se contraem e expandem em ritmo frenético.
Bebo mais um gole de cerveja e não encontro ninguém.

Leandro Borges

Abismo de Neve


Cercado por vinte mil garrafas
penso em logo voltar para o fundo
desse copo raso e gelado.

Entre as cadeiras deixo uma fresta de mim,
do meu vazio, de um veneno viscoso e frio.

Entre as tuas pernas cruzam
o meu olhar e a tua gentileza.
Teus olhos queimam nas paredes
da minha boca, e o teu sabor
ainda está em mim, nos meus lençóis,
na minha roupa, no meu cachecol.

A tua boca suave faz sangrar
os meus lábios, o pensamento; a memória.
Sugas a fumaça e deixa alguns minutos queimados,
adquire muitas e muitas bactérias ao beijar-me.

Teu gosto me recorda o tempo que a grama
era verde, agora é branca e são muitas gramas.

Segues um rastro de neve feito em filete,
usas um espelho, mas nele apenas consegues olhar
o fundo dos teus pesadelos, a tua narina: nua.

Teu desejo repulsa meu beijo.
Te olho com outros olhos.
Me cheiras com outro nariz.

Mete o teu onde quiseres
- Eu cuido do meu muito bem, meu bem!
Agora não me pede pra apoiar o teu
que o abismo sem fim da perdição é logo ali.

Leandro Borges

Copos Vazios


Os meus amigos estão aqui
sentados,
não bebem.

Conversamos, ficamos em silêncio,
nos olhamos mas não bebemos.
Todos estão procurando
e procurando: nada a encontrar.

Os meus amigos estão aqui
sentados,
não, eles não bebem.

Só queremos nos divertir, viver, sorrir
e beber, mas a grana tá pouca.
A alegria tá escondida
assim como está negra essa ferida.

Os meus amigos estão aqui
sentados,
é verdade, mas não bebem não.

Passou uma onda, levou o ouro, alegria,
coragem, gana, ousadia, amor e desejo.
Nos deixou apenas a depressão profunda e o copo vazio.

Leandro Borges

21 de mar. de 2009

Despedida


Me da as costas e morro.
As costas
Outra vez morro.
As costas novamente
E a morte me beija outra vez.

De tanto morrer
De cada vez acordo menos vivo.
É necrosado o tecido!

Hei de tanto morrer
Vendo só as tuas costas: morrendo...
Tenho medo de tanto morrer
Não acordar mais do pesadelo.

Certeiro.
Fulminante.
Escaldante.

Doloroso.
Mau cheiroso.

Uma centena
De mortes em vida.

Leandro Borges

20 de mar. de 2009

Porto Alegre de todos corações


Eu tinha quase dezessete.
Uma cidade para conhecer e conquistar.
Tudo me parecia maior.
Tudo me parecia perigoso.
Era novidade toda banalidade.
Como era bom acordar cedo
ir ao último ano do colégio
e ser recebido de braços abertos.
Mesmo sendo um completo estranho.
Conhecer Porto Alegre pelo coração das pessoas.
Contos.
Casos.
Histórias.
Conhecer uma Porto Alegre que não se encontra em cartões postais,
e sim é olhando nos olhos, é sentindo o carinho.
Porto Alegre feito de açúcar.
-------------feito de pôr-do-sol.
-------------feito de parques, roda de amigos com ou sem chimarrão.
Meu encanto, minha sina.
A tua magia de formar casais.
A tua magia de fazer chorar de dor e alegria ao mesmo tempo.
Meus olhos brilham do teu olhar.
A tua guria dos olhos nos meus.
O sol dos teus olhos se põem nos meus.
Olhos de Marinha
de Gazometro
Ipanema
Redenção
Parcão
Minha vida se encontra
entre a Borges e a rua da Praia.
Foi no frio do teu inverno
que conheci o fogo do teu coração.
Chove corações
abre o sentimento
a ferida aberta
a flor da pele
o lírio do teu sangue.
Porto Alegre de flores, suicídios, paixões, dores, amizades, solidões, carinhos, bairrismos, compaixões, machismos, saudades, tradição.
Porto Alegre de valor, desencontros, liberdade, lealdade, falso amor, confiança
e brota do teu seio a esperança infinita, bonita; é bonita!

Leandro Borges

5 de mar. de 2009

A vida não é um catavento multicolore derretido


Fácil - sonhos - vida - dimensão - eles

"Fácil" é viver em um catavento multicolore derretido.
Onde o viver é feito de engarrafar nuvens e "sonhos".

A "vida" nua e crua que finca os pés no chão
vê a alegria e a tristeza da vida plenamente.

Entende que o mundo não é apenas o seu, e sim
o entende em uma "dimensão" maior: ampla.

É pena que "eles", muitos deles, ainda não despertaram.
Infelizmente não tem uma consciência lúcida e não cega.

Leandro Borges
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