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13 de out. de 2008

O outro tempo


Aqueles que não olham pra trás
não sabem o que será o amanhã.

Tua face doce salgada.
Fica parada com um fim.
Sem o teu tempo eu digo, sim.

Em partem, a outra parte, se parte e parte.

Deixar o tempo te ver.
Escorrer na caminhada dos anos.
Deixe a vida lhe servir um gole.

Leandro Borges

Seduzidos pelos véus


São tantos véus que sufocam
todos os sentidos,
confundem os sentimentos,
adormece a consciência na névoa.
A beleza.
A fama.
O poder.
O dinheiro.
O amor romântico.
O status.
A personagem.
Fantoches escondem o seu dono.
Correm atrás de ilusões consecutivas.
Seduzidos pelos véus de Maya.
Seguem como sonâmbulos para o abismo.

Leandro Borges

Círculo vicioso


Alguém que não para a alguém que não acorda.
Um rastro de um vulto.
Uma dor de cor escura.
Esconde o andar atrás de outro.
Um coração vidrado, em ânsia.
Uma prisão de uma corrente amarrado
ao pé, não por uma esfera de metal
mas sim um peso humano, turvo.
Escorro as ruas com pesar
sigo uma vida sem vida, apenas queda.
Angustia e desespero na sola dos pés.
Sigo um rastro torto de prisão.
Escorre lama pelas ruas
ruma ao desaguar em uma boca de lixo.
Uma boca de sabor amargo
de armadilha em andar em círculos.
Uma função recursiva sem critério de parada.
Farpas da sociedade que sou,
repugno a mesma que apodrece.
Que sou mas não sou desta qualidade.
Um poço de lodo e desesperança,
seque em cíclica dança suicida.
Parecia não ser nociva,
mas no silêncio do teu sono te algemou.
Te arrasta, lenta e certa a morte dolorosa.

Leandro Borges

8 de out. de 2008

Neo-torre de babel


Um império ruindo e rugindo.
As torres vão caindo, uma a uma.
Caem os peões, caem os bispos,
cairá a cavalaria e a rainha-liberdade?
Um xeque-mate contra o velho Sam?
Não cabe em um mundo, mundial.
Um país irmão mais velho, imperial?
A cada esquina há uma bandeira norte americana,
um cadáver e um terrorista?
O sonho acabou, a guerra afogou em mar de sangue,
a paz, o amor, a esperança e o sonho.
Morre a cada dia uma estrela,
no fim só sobrará, pólvora,
horror, estupidez, ignorância
e um farrapo de bandeira sem céu...
É como um grande musical,
de uma trágica e dolorosa morte,
ao som de rajadas, bombas, tiros,
explosões, gritos, berros e sofrimento.
Ao bom e velho estilo do velho Sam
abafando o som dos protestos, das passeatas,
dos movimentos, das palestras e dos despertares.
Uma minoria que ainda faz pensar.
Uma caçãocastelodecontodefadas a ruir,
uma neotorre de babel de silício, petróleo e artificialidade.
Uma fragilidade sem igual, sem tamanho.
As traçasvírusdecomputador do teu próprio fel
te atacam impiedosamente, sem cessar.
Um país agonizando na própria lama contaminada nuclear.
Chafurda no próprio vômito da empáfia, feito em egoísmo,
individualismo, megalomaníaco e grave depressão.

Leandro Borges

Vida customizada


O direito de sofrer todas as dores do mundo.
Passar por todas as tempestades, dias intermináveis,
lutas enclausuradas, restringir o viver a um cubo.
Atenção doentia do acordar ao dormir, tensão em cada músculo,
cada movimento, cada comportamento e intenção.
Há tanta luz, cor e flores lá fora.
Um mundo de poucas roupas, noites dormidas em desconforto,
tensões criadas, desemplificar do não óbvio.
As cordas emaranhadas nos nossos pés, uma mescla
de salvação e perdição, corda em forma de espagueti.
Pés descalços, vidros estilhaçados, fumaça,
ar ofegante, cabelos molhados, fogos e explosões.
Torres de babel customizadas, castelos privados,
um universo feito de ego e ouro.
Farpas caem da boca do cão, da cobra,
de todos os habitantes da grande babilônia.
Ruem em micropartículas todas as esferas,
ao redor das cabeças programadas para amar
um amor com data de validade vencida.
Um gigantesco rolo compressor da vida,
ao vence-lo minha essência está ainda mais concentrada.
Um cristal por muito tempo permanece em sombra.
Tenho a convicção que quando voltar a luz
irá brilhar como nunca fizera antes.
Não é a toa que uma flor morre.

Leandro Borges

Cárcere do medo


A violência que mata o ser saudável.
Sem o direito de sair.
Sem o direito de viver.
Terceiromundísta de uma vida pseudo feliz.
Medo da rua, medo da não iluminação,
medo da esquina, medo da madrugada,
medo da estrada, medo do estranho,
medo da segurança, medo do movimento,
medo da mudança e medo da cor,
medo da pele, medo do brilho,
medo do metal, medo do vizinho,
medo do olhar e medo louco de viver.

Viver de violência, dor e desespero.
Me olho no espelho e vejo um prisioneiro,
um estranho e um naufrago.
Um cárcere privado,
um prisioneiro do terror alheio.
Confinado nas grades do medo
recluso de si mesmo.

Uma vida (roubada) por outra ameaçada.
Um lento morrer em vida.
Sem saída.
Se amor.
Sem sabor.
Olho pela micro janela gradeada trancafiada.
Tento ver daqui duzentos anos a paz.

Leandro Borges

Brasil, lixo, Brazil


É um Brasil que come lixo.
Quem sou eu pra saber de algo...
Eu gostaria de uma vida digna
a todos, e faço força para colocar
a minha centelha na criação do templo global.

Eu vejo mas não vejo.
Abram os olhos da alma dos egos,
todos egos de toda humanidade,
que separa, o seu ser de todo o corpo.
A aldeia global não pode ser
esquartejada em egos inflados e inflamados.

Como um saco de bolinhas de gude
dispersas no espaço, sem visão.
Somente inflam, explodem e morrem.
Não se unem, sem uma vida única.

Até quando não haverá somente uma esfera?

Perdoe a nossa miséria de alma senhor.

Leandro Borges

Parte, outro lado


Manha, tudo passa.
Noite, deixa voar.
Chuva, queda no ar.
Vento, solo tempo.
Brisa, rosa criva.
Tarde, jas chuvosa.
Tufão, escorre chão.
Seta, rega rede.
Pingo, molha plexo.
Bate, ferro quebra.
Pala, lava lama.
Cama, perna chama.
Sofá, só momento.
Coro, come forro.
Vaso, forja alma.
Vidro, vibra osso.
Fêmur, fere coxa.
Mundo, bebe terra.
Globo, fura bola.
Carro, fogo pinho.
Final, chuva em sal.

Leandro Borges

Gotas no deserto


Chove tanto que eu não tenho vontade de chorar.
Faz um tempo que o tempo não dá um tempo.
As desertificações, os buracos cada vez maiores
a camada decresce e o ozônio padece só.
As crescente desertificações...
Eu quero e não quero você, ela diz.
Eu quero e não quero viver, ele diz.
Eu preciso sair, não te ver, viver, ela diz.
Eu preciso sair, viver em ti, matar em ti a minha solidão, ela fala.
A procura de uma porta de saída,
prefiro ficar com o mais provável, com o nada.
Onde a falsidade dança um tango choroso.
Caem lágrimas das nuvens, choram outra vez,
escorre pelas ruas a extensão das minhas veias.
Bate oco no meu peito, um vazio desesperador, consome a alma.
Um deserto de vida, mesmo com tanta chuva.
Um deserto de cidade, mesmo com tantas pessoas.
Um deserto no coração, mesmo com tanto sangue.
Uma vida de mentira, uma tristeza.
Vivo em ti a vida, sem você eu sobrevivo.
Eu não vivo sem a tua solidão, será minha?
Só sei viver por você ou até você?
Eu, simples, me projeto, e sem você - como tela - não há filme.
Uma falsa realidade, um palco de ilusão todas noites.
Só venço a solidão ao dançar sozinho, em um lapso de lucidez.
Descubro quem eu sou e sou apenas por um instante;
até o termino da bela melodia.
Assim como a vida chega ao fim.
A finitude da vida, o curvar do tempo.
Sem harpa para tocar, morro nesse rio revolto em meio ao deserto.

Leandro Borges

4 de out. de 2008

Amor incondicional


O amor incondicional que move o universo.
A força maior, o primeiro amor de toda existência.
Tudo que se move queima pela primogênita chama
combustível de todo o movimento, vibração.
É somente um e bilhões ao mesmo tempo.
Cada coração toca a canção universal
do som incondicional de uma nota só.
Toda cor, todo calor, toda luz
tem a sua raiz em um só caminho.
Há somente um amor, aquele que não impõe condições.
Tudo mais que existe é ilusão.
Tudo mais que existe é círculo vicioso.
É Maya.
É Samsara.
O ego doente aponta pra si, como um ciclo perdido.
Não há caminho ao andar em eternos círculos.
Está dentro de nós e em todo lugar
a luz, o caminho, a criação e o criador.
Há uma semente do céu em cada coração
temos o potencial do amor universal,
o sentimento primordial, único e incondicional.

Leandro Borges
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