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8 de out. de 2008

Gotas no deserto


Chove tanto que eu não tenho vontade de chorar.
Faz um tempo que o tempo não dá um tempo.
As desertificações, os buracos cada vez maiores
a camada decresce e o ozônio padece só.
As crescente desertificações...
Eu quero e não quero você, ela diz.
Eu quero e não quero viver, ele diz.
Eu preciso sair, não te ver, viver, ela diz.
Eu preciso sair, viver em ti, matar em ti a minha solidão, ela fala.
A procura de uma porta de saída,
prefiro ficar com o mais provável, com o nada.
Onde a falsidade dança um tango choroso.
Caem lágrimas das nuvens, choram outra vez,
escorre pelas ruas a extensão das minhas veias.
Bate oco no meu peito, um vazio desesperador, consome a alma.
Um deserto de vida, mesmo com tanta chuva.
Um deserto de cidade, mesmo com tantas pessoas.
Um deserto no coração, mesmo com tanto sangue.
Uma vida de mentira, uma tristeza.
Vivo em ti a vida, sem você eu sobrevivo.
Eu não vivo sem a tua solidão, será minha?
Só sei viver por você ou até você?
Eu, simples, me projeto, e sem você - como tela - não há filme.
Uma falsa realidade, um palco de ilusão todas noites.
Só venço a solidão ao dançar sozinho, em um lapso de lucidez.
Descubro quem eu sou e sou apenas por um instante;
até o termino da bela melodia.
Assim como a vida chega ao fim.
A finitude da vida, o curvar do tempo.
Sem harpa para tocar, morro nesse rio revolto em meio ao deserto.

Leandro Borges

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