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18 de set. de 2010

Miscelânea de um quadro


O quadro me deu essa ferida na cabeça.
Me deu, e por um bom tempo não tinha consciência da ferida.
E pra quem é?
Porque?

... por aquilo que se dá a alma, a vida.
Uma ferida seca, amarga.

Uma sala quase vazia...Um bolço quase vazio.

Muitas e muitas noites.
Muitos e muitos pingos de suor.

Da cor que não se vê, mas sabe que foi pra outrém.
Da forma como um olhar domina outro.

Pelo olho que cresce no ego.
Por mais nãos acumulados.
Pela fala de humildade.
Pelo não escutar.
Pelos ignorares.

Nú no alto, no chão de um saltimbanco.
Nú para o gelo ao redor.
Frio de não aquecer o coração.
De espantar o desejo.

Andando cego pelo chão, vejo quimeras e dragões.
Todos tão amáveis com suas coleiras de ouro.
Sigo e tento me manter forte.
Rodopio, tento criar um escudo de luz.

São tão fortes, as quimeras riem e os dragões cospem fogo.

O tudo entra em chamas e eu tento salvar a minha alma.
Entram todos em cena, todos nús.
O fogo queima as falas, queima as marcas.
Queimam as almas de todos.
E sobra apenas um resto de quase não-teatro.
Maquilagem derretendo, falta água, falta ar.


O espelho era pouco e se acabou.


A platéia joga moedas , mas a quarta parede não deixa nenhuma cair.

As quimeras riem e os dragões cospem fogo.

O tom da peça fica ainda mais dramático, o lixo começa a escorrer por entre os personagens, pelas veias de cada um.

Os olhos de duas atrizes crescem com fogo dourado, deixam cair de seus corpos os corações. Sai um líquido preto das suas bocas.

É uma cena não-ensaiada, há bicicletas voadoras no palco, e voa um velho palhaço.

Ele é morto por alguém da sala de comando.

O pano se fecha. E logo após é queimado pelo fogo.

O tom da peça fica ainda mais dramático.

Então os dragões tomam a cena, comem do melhor: os corações que sobraram.
As quimeras fogem.
Um barco surge em direção a favor do vento.
Um sol tão pequeno surge e escorre lodo.

Alguém da última fileira grita:

- Como é bonito ver um grupo de atores sangrando, desenhando com sangue no palco palavras indescifraveis.

Outro da primeira fileira grita:

- Deveriam ser artistas plásticos!

Um amigo da trupe na terceira fileira fala:
- Sucesso!!!

Leandro Borges

14 de set. de 2010

O brilho de uma criança


Alegria de correr... como um bebe crescidinho!
Se embriagar de alegria, pelo simples fato de sentir-se correndo.
Um sorriso simples de criança.

Tão pura.
Tão suave.
Tão inocente.

... e eu tão culpado.


Como pode os anos terem me deixado tão sujo?

Leandro Borges

13 de set. de 2010

INFERNO-SP


Cidade-inferno.
Transito-inferno.
Atraso-inferno.
Dinheiro-inferno - tô pouco me fundendo pra essa merda!

Morra soterrada de dinheiro, poluição e concreto.

Engulam dolares, reais, euros e arrotem ostentação, stress, parada cardíaca e AVC aos 30.

Metrópole da gordura, obesidade e ego: tudo inflado!

Rotina de merda e vida cretina.
Stress, além Stress; cidade muito aquém: cidade sem coração.

Leandro Borges

7 de set. de 2010

São Paulo, cidade escrota


São Paulo é isso, te traz uma lágrima; um rio.
Te aperta, te sufoca, te seca, te consome.
Desde a infância te xinga, te desdenha: não te dá atenção.
É poluído... de dor, de desgraça, de vaidade - te ilude, te inunda de carbono.
Nos poros.
Nas vísceras.
No pulmão.
Na alma.
No coração.
Muda a tua natureza, te faz escravo do sistema.

Vai um dinheirinho aí?
Quanto vale a tua alma?, a tua família??, a tua dignidade???

Leandro Borges
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