O fio do tempo corta a minha pele
fico aflito e só
procuro por um espaço onde o tempo não me queime.
Onde a cidade anda aflita a cada esquina.
Onde meu coração é incompreendido.
Onde há menos flores, menos árvores, menos amores.
Onde o concreto me engole, e me sinto frio e áspero.
Vejo apenas nos olhos das crianças um outro mundo.
Onde me olham como anjos.
Sentem por mim.
Eu, sem auréola e sem asas.. busco voltar a voar.
As baratas na rua passeiam solitárias.. Kafka está morto.
Os naipes do mundo foram lançados, e não se ousa sair fora do baralho.
Me sinto além-jóquer, além baralho, e por assim ser; descartado.
Usado, reusado, usado novamente, reciclado e feito como objeto.
Muitas usam e dormem felizes.
Onde meu coração se revolta pela corrente de consumo.
Tento ser fera, para não ser visto como um príncipe encantado.
Busco que me vejam por dentro, e mesmo assim enjaulam a fera.
Seja príncipe ou fera, não me vêem a fundo, de verdade.
Sou apenas mais uma lata de sardinha, consumível, feio ou belo: não importa.
Me recolho e volto a olhar os olhos das crianças.
Nos tornamos monstros, longe da pureza, longe do verdadeiro e profundo.
Busco sair dessa ciranda onde muitos dançam e se ferem.
Ciclo de vício, dor e lágrimas.
Um rio que desagua em um mar de dor e desespero.
Leandro Borges