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4 de mai. de 2007

Homem gosta de sal


Verter sangue. Ele segue. Ela é frígida. Foste a prender. Passado, esquecer. Pasmo. Ele. Pasmo. Ela. Era uma tarde quase fria, e ela ria. Em dez dias tudo mudaria. Tossia e ela se entreteria como uma guria. Era de olhar parado. Fulgor alado. Ela tinha as mãos leves e ele gostava de reparar o olhar sobre elas. Ele a sentia macia e ela ria. Ele não sabia, mas ela era fria. Ele criava cores em sua veste de podridão. Como pode alguém tão doce e ter mau cheiro? Um superego abandonado seguia como imã para as mortes do dia.

- Eu dei um beijo nele e não senti nada. Eu tentei me apaixonar por tantos e nada. Teve um uma vez que fez de tudo, me bajulou, se apaixonou, me cortejou, me provocou, me amou, me desvirginou e nada. Não senti nada. Eu hoje sei que sou frígida, mas no dia eu coloquei a culpa nele.
- Bem Sabrina, não fique a se lamentar pelos cantos, hoje é normal vermos muitas mulheres assim, isso explica porque tantas priorizam hoje em dia o trabalho do que ter uma família. Negligenciam a vida a dois e lutam atrás do dinheiro, alias adoro dinheiro também. Homem é só incomodação.
- Eu ainda vou me libertar e me apaixonar por alguém. Tenho inteligência, beleza, dinheiro, amigas e falta de sal.
- Homem gosta de sal. Impossível.
- Deixa estar, eu serei sal. Mas o fato é que o problema são eles. Um homem deve ter a capacidade de apaixonar uma mulher. Mesmo eu sendo fria e frígida o homem deve fazer o milagre do amor.

Teria essa meta na vida, ter sal. Mas não era sal que conhecemos, era o algo mais, a magia que faz um outrem gostar de alguém. Seria o príncipe dos sonhos e Don Juan de sua cama. Alias os seus orgasmos eram bons, mas não de uma mulher normal. Era ótimo, mas tinha dor, um peso e uma fome. Seu gostar não havia lugar. Era poesia e tragédia. Não tinha se apaixonado por ninguém em toda a sua vida, mais de vinte e cinco anos sem amar ninguém. Não era normal. Mas pra ela era, buscava de todo o tipo de literatura pra justificar tal fato, psicologia, sociologia, independência feminina e uma ferrenha vontade de se impor como superior. Era de uma frigidez absurda. Dissimulava, simulava orgasmos. Tirando o seu prazer por ser mal tratada. Era infeliz em resumo.

- Eu vou viajar e mudar o mundo. Fazer os jovens ter uma oportunidade na vida. Ter seus direitos assegurados. Serei Juíza. Melhor, relações internacionais.

Uma promiscua vontade de ser honesta. Era indigesta.
Sai dos lares, pintando sexo nas paredes. Sabia décor, e era pior. Gostava de ser má. Não entendia essa bondade.

- Eu sei que o bom é um caminho chato.
- Amiga, não fale assim alguém ruim pode ouvir.

Seguia sua rotina diária, era uma estudante mui valorosa. Estudava por demais. Era incapaz de se sabotar. Ruía no lar. Calmaria e podridão não saiam da sua mão. E ele no seu pensamento aparecia e repetia:
“Não larga da minha mão. Vem comigo, sem ti o mundo é muito hostil. Me vem um vazio. Penso em chorar, ai eu paro. Te quero”
Ela pensara nele, mas sempre ao ser indagada dizia que tinha sido bom lembrar que tal pessoa existia, fingia; dissimulava. A verdade é que pensará nele muitas vezes no dias de chuva ou nublado interior. As uvas tinham uma suave textura, era nua; nua. Lembrou de Pablo Neruda; pensou nos sonhos alados. Era fantástico renascer das cinzas. Mais um dia faria suas forças redobrarem. E viajar era um plano longínquo, mas agora com Neruda no pensamento, não Chile, mas sim Espanha.

- T’aí, por que não Espanha? Madrid deve ser linda nessa época do ano. Alias em qualquer época, melhor que isso aqui; Brasil terra de ninguém. Vai seguindo no quarto:
- Pimenta. Luzes Roxas. Um espartilho. Cinta liga. Hello Kitty. "Sobbin' Women” Almodóvar. Tabaco. Channel. “Dirty dancing”. Vogue. Augusto dos Anjos. Depressão. Sangue. Morte. Suicídio. Cefaléia tencional. Promiscuidade. Impulsividade. Frigidez. Palidez. Languidez. Mãos pequenas. Corpo pequeno. Pouca experiência.

- Pronto, tudo na mala.

Era um caminho longo a seguir. Era ainda o primeiro dia do mês. Tinha medo de um falso brilhante. Brilhantes iguais aos olhos dele. Ela pensou em viajar para outros países, mas não iria aos estados unidos da América do norte, era algo assustador tanto horror que fora espalhado por lá. Tinha algumas paixões escondidas. Tinha medo de ser doce o bastante para se perder e entregar a vida a um estranho. O mesmo estranho que fica ao deixar para trás mais um marionete.

- Me passa a pipoca, este filme está ótimo.
- Claro querida, como não.

Era só mais um, algo para passar o tempo enquanto o dia do vôo não vem. Era um moço caído de apaixonado e ela nada. Ela conseguiu desimular uma brecha de amor. Era uma brecha estreita e ele heroicamente desbravou todas as entranhas desse labirinto apertado. Refém de um amor idealizado e preso no labirinto foi cada vez mais fundo, sem notar que estava em lama profunda e um afogar fatal.
Queria uma taça de champagne e um brinde, não sabia o que brindar pois amor e alegria não tinha.
Aeroporto. Era algo novo, muitos homens. Estava aflita. Olhou para o homem mais apessoado para o seu crivo, não disse uma palavra. Apenas disse que era muito bonito e lhe arrastou para o banheiro do aeroporto. Fez um trepar selvagem, sem tanto prazer, na verdade gostava bem mais era das mordidas e unhadas somente. Era quente, mas só sabia mexer os quadris, pois já estava alterada a coitada.
Salão de embarque. Olha para as placas, um calendário meio rasgado acusava a folha, Março. Pega o bilhete e sai pelo seu vôo. Tranqüila e devassa se sentiam tão bem ao fazer tais cenas de sangue, dor e desapego. O que ela não sabia era que fora vista pelo seu homem passatempo, viu arrastar o desconhecido para dentro do banheiro, e seus gritos e gemidos falsos de amor e reais de dor foram ouvidos ao se aproximar do banheiro pelo seu casinho.
No avião, passou a vista em todos os homens. Viu um velho, parecia estar ali a trabalho, quando ouviu ele falar a alguém que era desembargador foi o bastante. Pegou o velho pelo braço, falou algo ao pé do ouvido. Depois de 15 minutos estavam os dois suando como porcos, e ela babava de dor e tesão, pedia para apanhar, morder e arranhar tirando sangue e ele lhe sentava a mão. Pernas, bunda e coxas; todas roxas. Voltara para o assento como se nada tivesse acontecido. Era uma putana selvagem e fria. Olhava para todos com cara de anjo, e ninguém desconfiou de nada naquele momento. Apenas a aeromoça, que ao ouvir os grunhidos tratou de se remoer de um turbilhão de vontades.
Um desembarque tranqüilo resolveu ir para um albergue, pois lá encontraria mais homens e alguma mão pesada. Queria sentir a delicia de ser novamente espancada. Mas quando à noite cai ela sente uma profunda dor. Uma vontade de não viver. Uma inexplicável vontade de chorar. Nada parece ter sentido. A vida parecia um amontoado de acontecimentos sem nexo. Era um absurdo viver para ela. Não havia cores, era tudo turvo e sôfrego demais.

- A que bela cidade, Madrid. É tão bonito esse nublado desse dia. Como poderia passar despercebido por alguém.
- Diga aos quatro ventos que estou curada. Senti hoje pela manhã algo estranho, a possibilidade de me apaixonar e o amar tocou o meu coração.

Era lambido o cabelo. Um esganado grito de dor exalava de sua alma. Era calma. Quem via de fora parecia de uma placidez sem fim. Sem muita expressão na face. Ela era interessante, mas seus rastros pelo caminho lhe apontavam a verdadeira face. Olha para um letreiro e vê inteiro por todas as letras, o ano de 2004, era um tempo bom. Era já uma noite escura, dura e fria. Estava novamente vazia.
Na manhã de quinta-feira, sai linda com sua mochila estilosa, era bem cedo. Antes das sete. Fora para uma estação madrilena.

- Deixa me ver... Gostei do nome: Atocha.

E ela sentira um alívio, nesse momento ela encontrou a paz final tão desejada:

Encontro contigo, mas era escondido.
Ela queria dele um amigo.
Era dentro da estação ferroviária.
Estava em chamas, ah esse amor!
A que comboio tão interessante.
Era tão fascinante.
Entrava na carruagem.
Abro os olhos e não vejo ninguém.
Era engraçado e pitoresco.
Ionesco. Ionesco.
Encontras alguém?
Começar compartilhar sonhos com ele.
Mas quem?
Começa pensar no futuro.
Ela lhe deu um beijo mudo.
Nada poderia lhe acontecer nesse dia: fascina.
E Hoje é o seu aniversário: Sabrina.
Saiu como mais uma manhã.
E nada podia acontecer com ela.
Febre quartã.
As batas brancas.
Conquista das esperanças.
Megafones.
Felizes.
Homens.
Mulheres.
Eles eram solenes.
Elas eram insones.

Leandro Borges

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