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13 de jul. de 2008

Uma amável história de amor

Um fundo branco. Ele e ela de negro. Ficam por um arrastado tempo se olhando fixamente. Ele tosse pra ela. Ela tosse pra ele.

Ele
É nessa verdade que insisto que tenho medo. Até que ponto essa verdade é verdade?

Ela
Tosse

Ele
Eu já acreditei que fosse uma ilusão criada somente por dois iludidos.
Eu já pensei em pintar um quadro somente com tons de cinza.
Mas o sol insistia em me mostrar ao abrir um leque de cores no arco-íris que eu
estava errado.

Ela
Não é verdade.

Ele
Não? Você acredita em tons de cinza?

Ela
Não, eu quero dizer que a verdade nossa não é uma verdade e sim realmente uma
ilusão, nós iludidos foi que abrimos os olhos...

Ele
Tosse

Ela
Eu sempre acreditei que podia existir algo de especial, sabe? Algo, alguém de verdade.

Ele
Tosse

Ela
Mas não... A vida é mesmo um amontoado de pregos e nada mais.

Ele
É verdade.

Ela
Esperamos somente um martelo para nos enterrar em terra...

Ele
Não, eu digo é que não somos especiais, é realmente uma ilusão tudo isso.

Ela
Quando eu olho pra janela eu vejo as nuvens, muita vezes vejo a figura de uma
bailarina olhando para baixo. Ela não vê acima dela. Passa e não vê.
Como é pode ela se perder assim? Lá em cima faz tanto frio, passa tão rápido o tempo.
É sempre assim, nos meus sonhos, digo pesadelos é a mesma coisa. Há sempre uma
mulher perdida, tentando chegar até o outro lado do muro para ver o seu homem, mas
ela é só um punhado de ossos.

Ele
Você já tomou seu remédio hoje? Eu...

Ela
Quando acordo sempre tenho a sensação que vou conseguir ver o seu rosto desfigurado, mas não. Sempre acordo antes... As vezes eu como bastante antes de dormir, pra ter
com mais frequencia esse sonho.

Ele
Tosse

Ela
Mas engraçado ultimamente só ando sonhando com velórios e velas, todas pretas.

Ele
Podemos trocar de assunto?

Ela
Você quem manda, ou ao menos era...

Ele
Eu já pensei que fosse vermelho, ou então dourado, talvez em brilhante... mas não.
Não. Sempre tem algo pra me sacodir e me dizer, é preto. Ah, sabe eu andei reparando
Todos os muros me passam um recado estranho, uma certa mensagem que todos eles se complementam. Somente ao fim de um ano eu recaptulo tudo que li e consigo entender todas as mensagens escondidas. Há tanta coisa entre as interligações de muros que a maioria das pessoas não tem a menor idéia. Eu poderia pintar muros, mas como não aprendi a nem pintar corações, eu prefiro mergulhar no piche e só.

Ela
Tá frio, né? Bem, eu vou indo.

Ele
Não esquece de sair da porta, antes de fechar.

Ela
As velhas mesmas recomendações de não, ainda, mas sempre.

Ele
Como pode um "bom dia" sair tão oco?

Ela e Ela
Tossem

Ela
Não deixe de tentar encontrar a próxima cara metade na esquina seguinte.

Ele
Quem sabe não cai do céu o seu principe encantado enlatado direto de fabrica...

Ela
Não se faz mais homens como antigamente.

Ele
Cospe no chão.

Ela
Ao menos eles eram...

Ele
Cospe no chão.

Ela
Bem não aditanta, era outro...

Ele
Cospe na cara dela.

Ela
Bate na cara dele.

Ele
As mulheres eram mulheres naquele tempo.

Ela
Talvez nem naquele tempo existia realmente homens...

Ele
Tosse

Ela
Tosse

Ele
Vamos nos acabar tossindo...

Ela
Tosse

Ele
Tosse

Ela
Eu lhe diria palavras bonitas ao invés de tossir, mas como não sei... Tosse.

Ele
Eu não entendi. O que é "palavras bonitas"... Tosse

Ela
Tosse, tosse e tosse.

Ele
Tosse, tosse e tosse.

Ele e Ela
Tossem, caem e morrem.

Fim

Um comentário:

miss_lioncourt disse...

lele!! ameeeei teu blog!!! vou te adicionar querido, beijos

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