Encontrei nas matas, na selvageria, as flores de um outro lugar.
De um outro tempo.
Soube que era do outro lado do rio.
Eu vi cavalos correndo, gauderios quase voando.
Vi prendas e muitas guirlandas de flores.
Vi bandeiras vermelhas rasgadas, brasa nos olhos.
Sei que perto da fogueira escutei muitos causos.
O céu mais bonito que vi nesses últimos duzentos anos.
Era de outro lugar aquela prenda.
De poucas falas, de um jeito tímido de ser prenda.
Sua veste negra, parecia uma guria crescida de luto.
Mas não, eu via o brilho dos seus grandes olhos.
Cabelos tão lisos, tão longos e tão negros.
Um ar misterioso de se esconder em seus véus negros.
De poucas palavras e olhar profundo.
De sorriso de canto e de fala doce e serena.
Era de uma outra qualidade de prenda.
Dessas que não é sempre que vem até estes pagos.
Sentou ao meu lado e me olhou de canto de olho.
Senti a sua energia encher as minhas marés,
mesmo este velho marujo se espantou,
pois era um mar de outro lugar.
Sei domar cavalos e mares.
Sei cantar dores e flores.
Mas senti um arrepio na alma ao ver aquela prenda de pele mui branca.
Não encontrei no céu a lua.
Era o seus olhos gigantes, engolindo o meu horizonte.
Em seu olhar mergulhei.
Um olhar-luar derretendo ao mar.
No pampa sem tempo-espaço de um horizonte infinito,
eu vi deitada servindo a contemplação o corpo nu da lua.
Leandro Borges
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