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16 de mai. de 2011

Dentro e fora: um deserto

No submundo da minha vida vejo as coisas flutuando que perdi. Fico submerso de uma nostalgia sombria sem identidade. Passo da idade, passo do limite, sem freio e sem caminho. Vergonha de ter os traços mal desenhados, disforme. Nada me consola, os ponteiros de cada segundo me cortam, a cada movimento, mais profundo. Em seu nublado e poluído céu, alegria é engordar. Tenho pressa de ver luz. De ver o Sol.
Vejo meu mar, de longe passam barcos.
Vejo meu céu, de longe passam estrelas.
Vejo meu chão, de perto tanta lama, tanto frio, tanta sombra.
Vejo meu porto, sem lugar; passam muitos portos por mim.
Bolhas de sonhos estouram, estou sujo de tanto sangue de tantos sonhos mortos. Sinto asco do hipócrita mundo; dessas pessoas que julgam as pessoas pela beleza e a forma de ser.
Onde o céu derrete.
O chão desaba.
As cores grisam.
A água some.
A terra desertifica.
O ar corta seco.
O fogo faz a festa.
A lua some a noite, de dia o sol ruge. Onde os abutres rastejam e os ratos voam. Onde o sangue coagula e a pele arde. Onde os anjos fogem e as bestas renascem. A cachoeira de lamentações não para. O rio de dor corre solto. Sem esperança. A depressão faz seu sarau. Onde se presenteia com espinhos, sem flores.
Onde os amores comem corações.
Sem paraíso.
Sem cor.
Sem luz.

Leandro Borges

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